O setor coureiro-calçadista foi sacudido na semana que passou com a notícia do fechamento de Reichert Calçados, uma das mais tradicionais fábricas de sapatos do Brasil com 72 anos de história e milhões de pares exportados anualmente. A receita girava em US$ 85 milhões/ano, o que o colocava na segunda posição entre os maiores exportadores brasileiros.
Esse é o significado econômico, mas é preciso enxergar além da frieza dos números e ir além das estatísticas para ver o real significado do fechamento dessa e de tantas outras empresas que não suportaram a combinação de dólar baixo e juro alto.
Com a empresa, tombaram 4 mil empregos e a esperança de milhares de pessoas em quase duas dezenas de cidades gaúchas. As perdas na cadeia produtiva são bem maiores, pois fornecedores e ateliês, além do comércio, por exemplo, perdem um importante parceiro e também são atingidos, ampliando o impacto do fim das atividades.
Quando uma indústria fecha suas portas, vai-se com ela boa parte da vida em muitas comunidades. Em Feliz, por exemplo, no Vale do Caí, o Reichert representava 25% da arrecadação do ICMS, o que amplia a tragédia que significa perdas dessa natureza.
Pais e mães de famílias em pequenas e médias cidades terão que buscar novas colocações, enquanto a direção busca redirecionar o grupo para outra atividade produtiva.
O fim do Reichert é a crônica de uma morte anunciada. Há pelo menos quatro anos os exportadores de calçados e os setores moveleiro, fumageiro e metal-mecânico alertam as autoridades dos riscos à atividade econômica com o dólar na faixa dos R$ 2,00. Apesar dos apelos, pouco – para dizer o mínimo – foi feito.
Essa semana, nova mobilização será feita. Seguirei ao lado daqueles que produzem e geram emprego e renda, mas é preciso que o governo entenda de uma vez por todas que o mercado pode muito, mas é preciso impor limites.
Foi por isso que há mais de um ano propus o dólar-referência, uma medida simples e que tinha como objetivo definir um valor para a moeda norte-americana ao exportador, com juros de 8,75% ao ano e carência de dois anos, via BNDES. O governo, dentro de sua visão assistencialista, preferiu ampliar o seguro-desemprego a adotar a proposta.
Quando há uma ameaça clara contra setores massivos de mão de obra, como é o caso da indústria calçadista, é preciso agir. Proteger postos de trabalho e investimentos é tarefa de todo governante. E Lula e sua equipe econômica precisam saber disso. Ou logo logo restarão apenas sindicatos no Vale, sem empresas e funcionários para contribuir.
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