quarta-feira, 28 de fevereiro de 2007

O Haiti como referência


O Haiti como referência
Júlio Redecker*

Encerrado o Carnaval, o ano inicia para os brasileiros com uma notícia sombria para todos aqueles que desejam ver este país no caminho do desenvolvimento: em 2006, outra vez, o crescimento da economia brasileira foi pífio, ficando apenas a frente do Haiti na América Latina, que está sob intervenção militar comandada pelo Brasil.
O anúncio do IBGE, indicando um crescimento inferior a 3% - para o mercado algo em torno de 2,7%, escancara o fracasso do governo Lula em tentar colocar o país entre as nações que mais crescem. Qualquer comparação, seja com países emergentes como China, México, Rússia ou Coréia, seja com os vizinhos latino-americanos, é constrangedora para um país com tantas potencialidades.
Neste quadro, estamos muito atrás de nações desimportantes no cenário internacional, como República Dominicana, por exemplo, com crescimento de 10,7%. Venezuela, com 10,3%, Argentina (8,5%), Uruguai (7,3%) e Paraguai (4%) mostram índices invejáveis perto do desempenho brasileiro.
Quando comparado com outras economias emergentes do mundo, o cenário é ainda mais constrangedor. A China cresceu 10,7% em 2006. Já a Índia estima índice de 9,2%, enquanto a Rússia exibe 6,8%.
O triste nesta história é que ano a ano vamos perdendo as oportunidades que a economia mundial, em seu melhor momento, vai oferecendo àqueles que colocam suas velas a favor da prosperidade. Sem fazer as reformas que o país precisa e desperdiçando recursos fundamentais para a retomada do crescimento em programas que não realizam a promoção humana, mas apenas mascaram o problema, vamos ter em 2007 outro período inócuo.
O discurso oficial, a bordo do PAC (Programa de Aceleração do Crescimento), sonha com dias melhores, com crescimento de 5% para 2008, apesar da desconfiança dos analistas e da própria sociedade.
Infelizmente, os sinais emitidos pelo governo vão em direção contrária a seu discurso. O plano de crescimento de Lula cala-se diante do combate ao desperdício, da melhoria dos gastos públicos e de investimentos em setores fundamentais para a economia nacional, como o agronegócio e o meio-ambiente.
Neste novo mandato, o presidente demonstra-se mais ocupado em ampliar sua base aliada, mesmo que o preço disso seja um inchaço ainda maior da máquina pública, sem que isso reverta em melhores resultados aos brasileiros.
Desenvolvimento, o novo nome da paz mundial como definiu Paulo VI em 1975, precisa ser uma obstinação do Brasil a fim de gerar oportunidades para seus filhos. O governo, de modo muito particular, tem papel protagonista neste processo, pois deve ser o indutor do crescimento a partir de políticas públicas, cujo foco deve estar na Educação.
A Coréia, após 20 anos de investimentos pesados nesta área, deixou a condição de subdesenvolvimento para se tornar uma referência em nação emergente. Não mais vendeu comodities - passou a exportar tecnologia e produtos de alto valor agregado, reconhecidos por sua qualidade nos mais exigentes mercados mundiais.
Mas para que esta também seja uma realidade verde/amarela, será preciso um comprometimento da sociedade com seu futuro e um governo disposto a deixar de oferecer bolsas em troca de votos, e cargos e favores por apoio no Congresso. Do contrário, no ano que vem teremos o Haiti como referência. Outra vez.

* Júlio Redecker é deputado federal e Líder da Minoria na Câmara