sábado, 31 de março de 2007

Uma noite para não ser esquecida

"Quero prazo, dia e hora pra gente anunciar ao Brasil que não vamos mais ter problemas nos aeroportos"
Presidente Lula, quarta-feira, no Palácio do Planalto, ao dar posse aos novos ministros
Já não há mais adjetivos para qualificar a tragédia, o caos, o horror, que se transformou o transporte aéreo no Brasil nos seis últimos meses.

A noite desta sexta-feira, que culminou com o fechamento de todos os aeroportos no País após o auto-aquartelmento dos controladores de vôos, tem tudo para ser a pior noite da aviação brasileira. O mais grave no balanço da crise é o fato de essa ser uma crise anunciada, pois há meses os controladores têm revelado sua impaciência e insatisfação diante do quadro que se arrasta há meio ano, e que culminou na queda do boeing da Gol, em setembro de 2006, sem que o governo mostre capacidade de reação.

Há vários aspectos envolvidos nessa questão e que não podem ser subjugados. O primeiro, e o mais importante de todos, é o lado humano, o que isso acarreta na vida de milhões de pessoas em todo o País e até mesmo no exterior, pois vôos internacionais têm sido cancelados e conexões perdidas em virtude do descontrole aéreo.

Ontem, milhares de pessoas ficaram retidas nos 49 aeroportos comerciais brasileiros. Centenas dormiram em corredores, sobre malas, pelo chão, sem as mínimas condições. Crianças, idosos, passageiros de todas as idades, gente cujo único crime foi confiar no sistema aéreo brasileiro - foi querer viajar de avião. Para se ter uma idéia do tamanho da tragédia, apenas no Aeroporto Internacional Tom Jobim, no Rio, 500 pessoas tiveram de se acomodar no saguão, sem qualquer garantia ou informação sobre quando e a que horas poderiam voar.

Os jornais deste sábado trazem outros relatos dramáticos, como o de Renato Paiva, 27 anos, funcionário de uma empresa de material médico. Paiva transportava, do Rio, material para cirurgia de reconstituição de face que seria feita às 7h de hoje em Campo Grande (MS). Seu vôo estava marcado para as 17h30, mas ele não tinha conseguido embarcar até as 23h. Quando soube do cancelamento do vôo, ligou para a equipe médica para avisar, desesperado. Seu profissionalismo, contudo, o impedia de arredar pé do aeroporto, pois sabia que a cirurgia teria de ser adiada caso não chegasse a tempo. E a intervenção cirúrgica, por conta do descontrole aéreo e do governo, não pôde ser realizada neste sábado...

Na tentativa de debelar a crise, o governo cedeu a todas as exigências dos controladores. Por escrito, o ministro do Planejamento, Paulo Bernardo, assumiu o compromisso de que não haverá punições, de melhorar as condições de trabalho e rever a questão salarial da categoria. Tudo isso após o comandante da Aeronáutica ter ordenado a prisão de 18 controladores e o presidente Lula ter mandado soltar os militares.

Ao tratar como um acordo sindical uma questão de segurança nacional, o presidente Lula criou um novo problema: o respeito à hierarquia, pilar da carreira militar, foi afrontado na noite de ontem com o aval do governo. As relações entre o comando e subordinados, que já não eram boas, só tende a piorar daqui pra frente e terá repercussão nos quartéis, certamente.

Não obstante a atual confusão reinante nos aeroportos, o Brasil se prepara para ter um incremente de 30% no fluxo de passageiros em junho, com os Jogos Panamericanos, no Rio. Estamos preparados para receber as delegações e turistas estrangeiros ou vamos atuar como bombeiros, apagando incêndio a cada semana, a cada nova crise ou fato pontual?

E pensar que o governo e sua base aliada haviam sufocado a CPI do Apagão Aéreo porque não viam fato determinado para a abertura da investigação....

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